Não há limites para a solidariedade
Sou da opinião de que em tempos de crise, as pessoas são mais generosas (falo de pessoas normais, o chamado povo, ou de instituições de solidariedade porque se formos falar dos mais ricos, dos banqueiros, dos governantes, prova-se o contrário). Espantam-me as inúmeras campanhas e recolhas (tanto a nível monetário como de bens de primeira necessidade) que já não são exclusivas de certas épocas do ano (como, por exemplo, o Natal). É certo que o momento que se vive, principalmente em determinadas partes da Europa, é preocupante e as pessoas estão cada vez mais sensíveis a essa carência. Já o dicionário define que solidariedade é o "sentimento que leva a prestar auxílio a alguém", a "responsabilidade recíproca entre elementos de um grupo social, profissional, institucional ou de uma comunidade" e/ou o "sentimento de partilha do sofrimento alheio".
Podia escolher falar de muitas dessas iniciativas mas escolhi apresentar-vos a Biciaventura Solidaria. A iniciativa é espanhola e realiza-se, anualmente, desde 2004. Com os valores do diálogo, humanismo, entusiasmo ou acessibilidade, um grupo de cerca de 15 pessoas que partilha o gosto por viagens, desporto e, principalmente, pelo seu meio envolvente e pelos desajustes sociais entre os diferentes países, viaja de bicicleta, em percursos fisicamente exigentes (os participantes percorrem mais de 2000 km em cada etapa) para conhecer outras culturas e locais mais distantes mas também para espalhar gestos de pura solidariedade.
Com outra forma de viajar e de olhar a vida o grupo tem o objectivo de melhorar o direito de bem-estar, de saúde e educação das crianças por todo o mundo. A equipa é composta por pessoas que têm entre os 30 e os 60 anos, na sua maior parte profissionais de desporto, e já realizou um total de oito etapas.
- Primeira etapa (2004): Toledo - Roma
- Segunda etapa (2005): Roma - Istambul
- Terceira Etapa (2006): Istambul - Jerusalém - Petra
- Quarta etapa (2007): Paquistão - Índia - Nepal
- Quinta etapa (2008): Laos - Tailândia - Camboja - Vietname (etapa em que financiaram a compra de 600 bicicletas, a realização de um estudo clínico sobre o cancro do útero e da mama, a construção de 33 poços, água para 15000 pessoas e a construção de um centro, no Camboja, para meninos de rua)
- Sexta etapa (2009): Uganda - Ruanda - Burundi - Tanzânia (nesta etapa financiaram a construção de um centro hospitalar no Burundi e uma casa-escola para meninos órfãos no Uganda)
- Sétima etapa (2010): Etiópia (financiaram a manutenção de 150 crianças no Orfanato de Saint Mary e entregaram microcréditos a famílias para que estas desenvolvessem a sua agricultura)
Este ano os participantes da iniciativa percorreram um total de 2500 kms entre Sevilha e Toledo, em Espanha. Recolheram 18 toneladas de alimentos e produtos de higiene que distribuíram pela Cruz Vermelha, pela Cáritas, pelo Banco Alimentar e outras pequenas organizações de assistência social espanholas.
Conheci esta iniciativa em 2010, quando assisti ao documentário "Etiopía, esperanzas olvidadas: 7ª etapa de la vuelta al mundo solidaria en bicicleta" (ou, em português: "Etiópia, esperanças esquecidas: 7ª etapa da volta ao mundo solidária em bicicleta"). Em Tordesilhas foi inaugurada uma exposição fotográfica com 75 fotografias da vida, das carências e da cultura da Etiópia.
Realizado por Emma Camarero, professora da Universidade de Salamanca, e uma equipa de alguns dos seus alunos da Licenciatura de Comunicação Audiovisual, o documentário não mostrava apenas as conquistas dos participantes mas também as suas principais dificuldades apresentando o reflexo audiovisual da viagem. No entanto, as melhores imagens surgiam com a alegria de crianças que sabem o que é não ter nada, para além de fome e miséria, para viver. Aquilo que para nós é acessível, como comer uma bolacha, por exemplo, tornava-se no melhor presente para aquelas crianças. No mínimo: emocionante!
Deixo-vos a fotografia que foi utilizada na apresentação do documentário:
E, já agora, não se esqueçam de ajudar os outros. Não porque se os ajudarem eles vos ajudarão também, mas porque ajudar faz-nos crescer, faz de nós ser humanos melhores e faz-nos perceber que os nossos problemas são pequenas gotas num oceano imenso! Todos juntos, por um mundo mais solidário e amigo. :)
Joana Pires