O mundo conhece-o pelos hits do seu disco de estreia, In The Silence (2014): "King and Cross", "Going Home" e "On That Day" foram verdadeiros sucessos nas plataformas digitais na Europa e na Austrália. Mas Ásgeir tem provado ser capaz de reinventar-se. E Afterglowé a confirmação daquilo que afirmei em 2014 quando falei dele aqui no Few days on land: os falsetes são a sua implacável arma e enquanto continuar a fazer uso dela, ninguém o vai conseguir derrubar. O misto de pop e folk com intermitências de electrónica e um aqui e ali de sotaque islandês combinam perfeitamente com a sensibilidade, a fragilidade e a verdade das letras. Acho que é mais um disco bem conseguido, dentro do estilo em que o artista já se afirmou e que me agrada. Considero que este é um dos melhores álbuns de 2017.
"Afterglow", faixa que dá nome ao disco, abre as hostilidades e confirma-se: assim que ouvimos a voz de Ásgeir, ouvimos falsetes. O refrão é todo ele num tom extremamente agudo, bastante improvável de alcançar pela maioria dos comuns mortais. Impressiona é perceber que ele canta assim ao vivo. Portanto, presumo que tenha seguido os meus conselhos, claro só que não.
As músicas seguintes, "Unbound" e "Stardust", foram o primeiro e segundo singles apresentados, respetivamente. Depois de escutado o álbum, temos a certeza que neste patamar musical Ásgeir não corre riscos. Manteve a fórmula que o levou a figurar nos tops musicais de vários países europeus, embora me pareça que este disco não foi tão bem recebido como o anterior. Eu gostei. É um daqueles álbuns que quando ouço, tenho de ouvir de fio a pavio. É um disco que acalma, que faz pensar na vida. As letras fazem sentido e podemos facilmente identificar-nos com as histórias que nos são cantadas.
As letras têm algo de complexo: expressam sentimentos através dos elementos - fogo, ar, terra e água. Nota-se em "afterglow, magic show/ shine across the earth tonight,/ shimmering over the ocean" e nas expressões "land, wonderland" e "river of light" que vai utilizando ao longo da primeira canção do disco. Fica evidente a sua ligação a algo mais espiritual quando fala em luz e relacionando-a o mar: "me, I’m a watercolour washing off/ into the deepest sea./ Though my soul may set in darkness,/ it will rise in light" ("Stardust"). O mar, as ondas, os céus e a neve servem para contar histórias. Tudo isto fica mais evidente em "Here Comes The Wave In". Ásgeir refere-se a "skies of grey", a "fresh air", e o refrão começa com "here comes the wave in/ let the water even everything". "Birds that sing", "morning light", "through the storm I travel in the night" ou "the wind that blows" são outras expressões e frases utilizadas nesta música. Acontece o mesmo nas músicas "Nothing", "I Know You Know" (onde fala do oceano e dos rios mais 30 vezes) e em "Dreaming" (quando fala nos "fields of green").
O factor sorte tem influência neste processo e não é pouca. A visão do artista é descrita por "luck will find me somehow" e "and then why do I worry/ odds are with me/ I am upon my journey/ untied I will be" ("Unbound"). Surge depois em "I Know You Know" uma quebra de confiança nesse sentimento com "why can't you see me/ feeling my luck wear thin".
Ásgeir não termina Afterglow sem depositar toda a esperança no amor, aquele de todas as formas e que tudo cura: "love so pure and ever true/ mends your heart and leads you through" ("Dreaming").
Uma das faixas mais cativantes do disco é "Underneath It", onde as guitarras fazem um solo bastante melódico e aparecem depois harmonias em perfeita comunhão:
"I Know You Know" é possivelmente a cançãos mais up beat do disco, é dançável e ao mesmo tempo serena no tom e na melodia. Com falsetes e mais falsetes, seduz pelo ritmo mas a letra também é muito bonita.
Faltava o apelo ao romantismo e à melancolia? Não falta mais. Podíamos falar da calma e reflexiva "Fennir Yfir" mas na minha opinião é na "Dreaming" que se concentra o jovem mais sonhador do mundo. E se dúvidas houvesse, a música termina com "I follow every line that leads to you". Fica claro.
O disco está disponível nas plataformas digitais e foi disponibilizado por completo no Youtube pelo que não precisam de gastar dinheiro para ouvi-lo. Eu comprei a versão deluxe porque era um disco que queria guardar (havia na FNAC portanto não é um artista desconhecido para os portugueses).
Conhecem o artista? E este álbum? quais as vossas considerações quanto ao que leram e ouviram? Espero pelo vosso feedback!
Há já algum tempo que queria falar-vos de Isaac Gracie, uma voz que transformou o meu ano de 2017. Tem ar de estrela mas quem conhece a sua história percebe que pouco confia nesse ar que se não fosse a sua voz única e o seu estilo característico seria apenas isso: ar. E é também o amor, esse sentimento que cantado nos conta histórias e que tantas loucuras traz consigo, que está na origem de uma estrela em ascenção. Nasceu em Londres mas a sua voz ecoa pela Europa fora. Pouco a pouco deixa de ser estrela de um país só.
Já não é segredo que a escola britânica e, particularmente londrina, é uma das mais fortes nos últimos anos. Os músicos e as bandas com formação no Reino Unido têm conseguido ver e vencer não só na Europa mas um pouco por todo o mundo. Sou suspeita para falar porque sou fã de várias bandas britânicas como The xx, Hurts ou La Roux, por exemplo, mas podia dizer-vos dezenas (talvez centenas) de nomes de artistas/bandas que hoje têm grande notoriedade mas que começaram por pequenos concertos, em cidades pequenas que é como quem diz na cena underground da música britânica. Isaac Gracie vem reforçar esse estatuto. Tudo começou com uma música, "Last Words" que compôs, gravando depois uma versão demo da qual fez o upload para o Soundcloud. Boom.
Por ocasião de uma entrevista que o músico deu à revista NME no ano passado, o jornalista falou na comparação de algo entre Jeff Buckley e Ryan Adams mas desde o primeiro momento o associei mais a Kurt Cobain. Bom, todos sabemos que não é linear, ou seja, ele nunca seria um segundo Cobain porque as comparações não são a esse nível estratosférico. A verdade é que a forma de cantar e a colocação da voz, um tanto crua e frágil e outro tanto sentimental, lembram-me Kurt Cobain. Poderiam lembrar-me Jeff Buckley, entendo, mas não a forma de estar em palco. Acho que a esse nível é mais rockeiro, se assim podemos dizer. É vê-lo a tocar ao vivo para tirar as devidas conclusões.
Gosto que as letras das músicas façam sentido mas também aprecio os nomes dos discos mais elaborados (e por elaborados entenda-se que de alguma forma possam ser considerados poéticos). No caso de Isaac Gracie, isso aconteceu com os EPs Songs From My Bedroom (maio de 2016), Songs In Black And White (gravado ao vivo em julho de 2016), e com o seu álbum de estreia, The Death of You & I, lançado em setembro de 2017 e que, embora tenha apenas quatro canções foi responsável por todo o buzz gerado em volta de Gracie na indústria musical.
As letras falam de amor, sempre o amor nas suas mais variadas formas que altera tudo, que faz mover o mundo. Às vezes de forma positiva e alegre, outras vezes nem tanto. As fragilidades e as inseguranças estão refletidas em "All In My Mind": "Talking ain't as easy when you're down/ I know you know I'm trying to find the words to say/ You told me you would always be around/ But now you're gonna know that we were not okay/ (...) Baby, why the hell you're acting so cold?/ I guess I'll never know". A destruição e as consequências em "Running On Empty": "Oh baby look at how you made me/ I'm going crazy/ Is this really how you want it to be/ (...) oh baby Don't forget me, forget me/ This is not how we were meant to be". E também em "Reverie" não há meio de as coisas correrem bem: "It isn't like me to complain/ But you don't look at me the same/ And darling I'm just not okay". A procura de respostas em "Terrified": "I don't wanna' be your boy, I wanna' be your man/ But something's got me wrong inside/ And I'm looking for the answer I don't understand/ And, darling, I am terrified". Procurando o amor, nem sempre pelos caminhos certos, mas com vontade de voltar atrás, recomeçar e encontrar a pessoa certa em "Last Words": "How did I get here and can I get back/ I thought I was having fun, but no/ I was just looking for the one/ Always - looking for you".
Esta "Last Words" em versão demo é uma das minhas favoritas (e ao que parece é uma das preferidas de Isaac também, tal é o orgulho que tem nesta composição). O EP Songs From My Bedroom é todo ele incrível por isso mesmo: são versões cruas, mais puras, gravadas com a simplicidade de uma guitarra e uma voz poderosa que são quanto baste para chegar-nos ao coração. E a mim emocionam-me muito. É nestas versões que percebemos o alcance vocal do artista e conhecemos os trejeitos da sua voz. Os cantos e recantos, a força das palavras, a emoção. E na versão demo de "Terrified" compreendemos tudo isso de uma forma que a versão lançada um ano depois, grava em estúdio, não nos permite alcançar. Deixa-me feliz ter ouvido primeiro a canção sem apetrechos, a voz e a guitarra conjugadas com um cantar sentido. São emoções diferentes. Quem me dera que o disco The Death Of You &I tivesse uma versão demo também mas sobre isso falaremos daqui a uns dias.
Pode parecer-nos que Isaac Gracie ainda agora aqui chegou mas a verdade é que foram várias as pequenas tours que fez pelo Reino Unido nos últimos 2-3 anos. Para além disso, participou nas tours europeias de Frances (2015-2016), de Michael Kiwanuka (2016) e dos irmãos Angus & Julia Stone (2017). Do que dá para prever, o início de 2018 tem alguns concertos agendados na Europa - em várias cidades da França e da Holanda - e depois Isaac regressa ao Reino Unido para mais umas datas. Até Fevereiro não há muita margem para vir a Portugal mas podem sempre convidá-lo para o Primavera Sound ou mesmo para o NOS Alive. Não tenho dúvidas que seria uma boa aposta tanto para palcos secundários como para, quem sabe, os curtos concertos de abertura dos palcos principais. É pensar sobre o assunto senhoras e senhores.
É assim o especial Isaac Gracie. Não tarda muito e não se ouve falar de outra coisa. Mais uma estrela nasceu mesmo a tempo do Natal.
Os The xx anunciaram a data de saída do álbum. Finalmente! Pois é... Muito esperamos (e os fãs, como eu, chegaram mesmo a desesperar) pelo regresso dos The xx aos discos. Mas sabemos agora que dois meses nos separam de 'I See You', o terceiro disco da banda. É no dia 13 de Janeiro de 2017 que o mundo fica a conhecer dez novas músicas. Bem, na verdade serão as outras nove porque "On Hold" já está disponível por todo o lado. Ele é Few days on land, é Youtube, é Spotify, é Apple Music, é Tidal, é Deezer... no fundo, o que vocês mais quiserem! Eu fiquei muito animada com esta música. Não só porque a espera foi longa mas também porque estou a prever um regresso ao estilo do primeiro álbum, sem deixar de ter ritmo e groove, mas com mais sentido e sentimento. E é isso que eles significam para mim: o expoente máximo do sentir.
Eis a tracklist de 'I See You':
1.Dangerous 2.Say Something Loving 3.Lips 4.A Violent Noise 5.Performance 6.Replica 7.Brave For You 8.On Hold 9.I Dare You 10. Test Me
O que vos parece o single? Estão animados com a chegada deste álbum?
Li algumas entrevistas dadas pelos Foals e a primeira coisa que pensei foi: "deve ser muito difícil simpatizar com esta banda". Parecem muito convencidos do que fazem e do seu valor face a outras bandas e músicos e normalmente não aprecio muito isso na abordagem aos media. Mas ouvindo What Went Downpercebemos que esta banda tem razões para tamanha irreverência e segurança no que diz respeito ao seu trabalho. O vocalista tem, aliás, ar de tomar em si grande parte destas características. Valha-nos o provérbio «quem vê caras, não vê corações». Continuo a pedir mais contenção nas afirmações, no entanto, se for para continuar a escrever assim, façam/digam o que tem de ser feito/dito.
Assim que ouvi o álbum percebi que se trata de uma composição muito rica, completa. No final da primeira faixa, "What Went Down", já estava conquistada. E eu nem estava especialmente atenta ao percurso dos Foals. A música é magnificente e o final é puro rock, com a bateria a provocar sobresaltos,acompanhada de uns graves imponentes. Sou suspeita para dedicar muitas palavras a "Mountain At My Gates", uma das mais belas composições que ouvi nos últimos tempos. As guitarras são sublimes! Um ritmo extremamente bem marcado.
Depois do groove de 'Birch Tree', mais melódica, começa 'Give It All'. O início faz-nos pensar que aquilo está a acalmar, porque traz mais melodia. Fez-me lembrar a sonoridade dos The xx. Aquelas guitarras têm qualquer semelhança com a sonoridade da banda britânica. Tem um dos melhores refrões do disco. Percebemos que isto pode ficar mais calmo e continuar com muita qualidade!
Mas entretanto chega 'Albatross' e a calma ficou lá atrás. O ritmo, mais uma vez marcado com excelência, e a força da voz do vocalista impressionam a cada segundo que passa. Embora a versão acústica seja bem apetecível, este rock todo acaba com qualquer um. Incrível final, no limite da criação mais melódica do rock. Faz lembrar quem? Na verdade, ninguém. Começo a perceber que estes finais cheios, completos, são uma características da banda. 'Snake Oil' passa sem deixar grandes notas de análise. 'Night Swimmers' e 'London Thunder', prestam-se melhor a esse trabalho. A primeira por ser extremamente dançável, a segunda por ser uma balada carregada de melodia e com períodos bem ritmados (sem nunca perder o tom de "falar ao ouvido") uma constante em What Went Down, como se pode constatar. As variações da voz do vocalista e os jogos vocais que vai criando merecem destaque.
Em suma, é um bom álbum, animado, com várias canções pautadas por ritmos marcantes. As melodias são excelentes, as guitarras poderosas, e os refrões têm força para sustentar tudo o resto. O som e os coros são dignos de recordação. A conclusão é que as massas ainda não acordaram para tudo o que os Foals podem ser.
Drones, dos Muse, tem uma entrada excelente com "Dead Inside". Gosto imenso da melodia e do "marca passo" deste tema. Há mensagens políticas e sociais por todo o lado e "[Drill Sergeant]" ou "[JFK]" são exemplos disso mesmo, na voz de outras pessoas mas inseridas nas reflexões que os Muse vão fazendo nas letras do disco. "Psycho" é uma música bem ao estilo da banda, com grande carga de rock, guitarras incríveis e bateria a liderar "as tropas", assim a chegar-se bem perto de ser considerado metal. Depois chega "Mercy" que já é mais o meu estilo. É um rock mais puro se assim se pode dizer e uma das minhas favoritas do álbum.
Os restantes temas seguem a linha já conhecida dos Muse: rock, guitarras fortes, melodias chefiadas por uma bateria marcada e uma voz inconfundível, com agudos (e falsetes) de fazer inveja às rainhas e princesas da pop. O disco não podia terminar melhor. Assim que ouvi "Drones", tive a certeza de que este era um dos álbuns do ano. Adorei. Fez-me lembrar canto gregoriano, as harmonias são lindíssimas.
Como sabem representei o Few days on land na escolha do melhor álbum de 2015 para integrar a categoria de música do "Melhor de 2015", desenvolvido pelo Sapo. Nesse sentido, e para "facilitar" a minha escolha, tive de listar os álbuns que se apresentavam como possíveis vencedores da categoria.
A lista não tem nenhuma ordem específica. É apenas uma lista, onde constam diversos nomes, de vários estilos musicais e com diferentes influências mas que, em jeito de balanço, são marcos incontronáveis do ano de 2015. Seria difícil para mim fazer um top 10 através desta lista, tenho vários favoritos e que gostava de adquirir para guardar. Ainda assim, é importante destacar o álbum vencedor - Currents, dos Tame Impala - porque considero-o o mais surpreendente do ano no estilo. Ainda terei oportunidade de justificar melhor a minha escolha.
Esta é, então, a minha lista de discos que, pelas suas características e pelo que trouxeram de positivo à música este ano, merecem destaque. Ainda que só um tenha ganho no final, há grandes discos para ouvir e apreciar e alguns deles serão destacados aqui no blog, até ao final do ano.
'Surrender'
Hurts
'No No No'
Beirut
'Caracal'
Disclosure
'In Colour'
Jamie xx
'Currents'
Tame Impala
'Glitterbug'
The Wombats
'Sound & Color'
Alabama Shakes
'How Big, How Blue, How Beautiful'
Florence and The Machine
'Multi-Love'
Unknow Mortal Orchestra
'Policy'
Will Butler
'In Dream'
Editors
'Oh Wonder'
Oh Wonder
'What Went Down'
Foals
'Depression Cherry'
Beach House
'New Glow'
Matt and Kim
'Kindred'
Passion Pit
'Music Complete'
New Order
'A Head Full Of Dreams'
Coldplay
'I Love You, Honeybear'
Father John Misty
'Marks To Prove It'
The Maccabees
'Love + War'
Kwabs
'Beauty Beyond The Madness'
The Weeknd
Outros artistas com novidades em 2015 que merecem ser ouvidas:
The Neighbourhood - Wiped Out! Lianne La Havas - Blood MS MR - How Does it Feel Toro y Moi - What For? Emile Haynie - We Fall Björk - Vulnicura Strings Best Coast - California Nights Years & Years - Communion Death Cab for Cutie - Kintsugi Imagine Dragons - Smoke+Mirrors
E vocês, já têm uma opinião formada sobre o melhor álbum de 2015? Quero saber tudo! Por isso, convido-vos a deixarem a vossa opinião nos comentários.