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Few days on land

Um retrato do dia-a-dia de uma jovem de viagens quase sempre musicais e nem sempre coloridas.

Um dia na Casa Fernando Pessoa

Passei um dia magnífico naquela que, no passado, foi a casa de um dos melhores poetas portugueses (uma das casas porque Fernando Pessoa teve várias). Tem uma biblioteca muito sossegada e que possui um património de grande valor (os livros antigos são verdadeiros "achados"). A casa em si é lindíssima, mesmo ao estilo de Pessoa. Um lugar onde se respira alegria, um lugar recheado de poesia, uma casa repleta de recordações. É como se Fernando Pessoa nunca tivesse deixado de estar por este Mundo. Adorei!

Estas palavras que me prendem #9

 

Segundo um minuto

 

 

Arrancaste-me as possibilidades.

Por ti, errei no caminho certo

Perdendo-me pelo caminho errado.

A tua verdade não foi além

Da mentira em que me vi

Já sozinha, abandonada.

Dormir era, agora, pensar

E pensar não era mais do que olhar,

Procurar no escuro e ver nada,

Para além de ti.

Esse nada que era, afinal, tudo

Na minha vida mal arejada, desarrumada.

Sem sentido ou destino

Dei por mim a correr.

Corria sem parar, sem abrandar, sem respirar.

Tudo o que fiz no segundo em que te vi.

 

 

                             Joana Pires

Estas palavras que me prendem #8

Cidade

 

Existes perseguindo o desconhecido e a surpresa é o insólito dos encontros momentâneos.

O barulho real é perpetuado no vazio quando o que se procura é calma. O movimento ganha devoção através de desgostos desafinados que transparecem no chão molhado.

É tempo de questionar o paradeiro da vida e quem ficou de vigiá-la, mas o certo é que não há respostas nos céus nublados. Talvez amanhã brilhe o sol.

 

                                                                                        Joana Pires

Estas palavras que me prendem #7

Desconfio

É falso.

Nada é o que parece

Quando tudo nos parece algo.

As lamentações prosseguem,

De que valerá a prece?

 

A confiança está presa por fios de cetim

E, pela noite, a confusão instalou-se.

Enfim, o que se previa,

O renascer da única certeza: o fim.

 

É falso.

O limite ultrapassado é a prova.

A incerteza guia-nos pela vida

Quando todos os caminhos se tornam escolhas.

As nossas dão-nos alma,

Conseguiremos aceitar as dos outros?

 

Quando percebemos que recordar mata lentamente

As lágrimas caem-nos pelo rosto.

Ninguém fica indiferente às lembranças

Mesmo que para o mundo fique transparente.

 

É falso.

Tornou-se complicado defender a sociedade

Da conspiração que a atinge.

A luz mostra-nos o reflexo da verdade

Através do espelho que a define.

 

No turbilhão de ideias que surge

Descobrir a melhor mentira é um desafio.

Se é falso não sei,

Mas desconfio.

                                          Joana Pires

Um aniversário poético

Portugal celebra hoje os 125 anos do nascimento de Fernando Pessoa. Para mim, Pessoa foi o poeta da verdade da vida. É com profunda alegria que percebo que a sua obra se tornou património, não só para Portugal enquanto país mas também para a grande maioria dos portugueses. Caro Fernando Pessoa, estamos gratos pelo seu enorme talento!

O Quinto Império

"Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!

 

Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz -
Ter por vida a sepultura.

 

Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!

 

E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.

 

Grécia, Roma, Cristandade,
Europa - os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?"

 

                                            Fernando Pessoa
Texto retirado da terceira parte da obra «Mensagem» - O Encoberto (I. Os Símbolos).