Entre New Orleans e Portugal: quebra-se a barreira do som
O jazz é o som característico de New Orleans e ninguém disse que não podia ser de Viana do Castelo também. Ficou provado no último dia da 24.ª edição do Festival Jazz na Praça da Erva, que o jazz cai bem a Viana do Castelo. Cada vez melhor.
Este ano, o festival contou apenas com projectos de origem portuguesa. Sou suspeita para falar (porque é um dos géneros que mais gosto) mas por lá apresentaram-se músicos de enorme qualidade, diga-se. Na verdade... Os concertos naquela praça são sinal de sucesso, de boas memórias e bons momentos passados nas noites relativamente quentes da cidade.
O festival realizou-se entre os dias 6 e 8 de Agosto, mas há no primeiro concerto do último dia vários pontos de interesse a destacar. Em primeiro lugar a presença de um músico como o contrabaixista Carlos Barretto. Mítico contrabaixista português. Atenção: não acontece em todas as cidades, muito menos todos os dias. Mais uma vez sou suspeita para falar, porque sou fã - como sabem frequentei o ensino musical e durante esse tempo aprendi contrabaixo. Durante os meus estudos fiz um trabalho sobre Carlos Barretto e embora mais tarde tenha abandonado o meu percurso musical nunca deixei de acompanhar o percurso musical do contrabaixista português. Sem dúvida, um dos melhores performers e conhecedores de contrabaixo e jazz que o nosso país já conheceu. Depois, a conjugação do som do contrabaixo com o guitolão, instrumento musical idealizado por Carlos Paredes. Há apenas três exemplares deste instrumento no mundo, segundo Gilberto Gráci, o constructor desta "evolução da guitarra portuguesa". Trazido a Viana do Castelo por António Eustáquio, o guitolão resulta muito bem neste espetáculo, conjuntamente com o contrabaixo. E fiquei fã também. Tão fã que comprei o CD que o duo gravou. Esta gravação foi possibilitada pela residência artística de ambos no Ciclo de Jazz das Aldeias do Xisto (quem quiser saber mais sobre o disco e/ou adquiri-lo, pode fazê-lo aqui).
Portanto... O que posso dizer é que não devemos perder oportunidades de ouvir boa música num cenário idílico. Podemos surpreender-nos mesmo quando já esperamos o melhor.