O problema não é a falta de humildade, mas sim de humanidade
Poder, estatuto ou muito dinheiro na conta ao fim do mês não cativam respeito. Estes "atributos" interferem com o carácter das pessoas mas só vão interessar a quem os procura, a quem quer alcançá-los. Repito: não comprovam o bom carácter, apenas um carácter muito próprio. Nos últimos tempos vivi e assisti a um conjunto de situações/comportamentos limite no trabalho que me têm feito refletir muito sobre a necessidade que as pessoas têm de agarrar-se a este tipo de "atributos" (para quem os considere) só para prejudicar outras pessoas. E o facto de terem de ser ocultados/abafados por títulos e cargos cansa-me. De verdade. Cansa-me para além do tolerável já.
Durante os primeiros tempos acreditei que o problema era meramente falta de humildade, aquele típico "eu sou melhor que tu e tenho um umbigo bem mais importante do que o teu". Hoje posso afirmar que grande parte dos problemas que vejo à minha volta e que em certas coisas me envolvem resolviam-se com um pouco mais de humanidade. De olhar para os outros como seres humanos que são, sem vê-los como números apenas. Caramba, somos todos de carne e osso, passamos fases melhores e piores na vida, temos personalidades distintas, não somos obrigados a sentir e lidar com as coisas da mesma forma. As coisas não são ou preto ou branco. Só eu é que estudei variáveis? Sabem que as variáveis aplicam-se (é suposto com os graus todos de estudos que têm)? É assim tão difícil compreender isso ou, pelo menos, ter isso em atenção quando abordam determinados assuntos? Nos últimos tempos, a grande questão que coloco é: mas será que esta(s) pessoa(s) não tem(têm) filhos(as), pais/mães, irmãos/irmãs, avôs/avós, amigos/amigas... Nem que seja primos em 3.º e 4.º grau? Será que esta(s) pessoa(s) não se revêem em mais ninguém? Mas de onde é que vem este sentimento de autoridade?
Sinceramente, a forma como as pessoas lidam com os problemas ultimamente intriga-me. Eu chego a pensar que já não há solução neste mundo. Tudo (ou apenas as questões que lhes interessam) se resolve a olhar para o lado, a fingir que não se vê que está ali alguém que também é merecedor da nossa compreensão e respeito. Ignoram-se factores preponderantes na vida das pessoas, ignoram-se as personalidades, os pensamentos, as opiniões. Com o poder, não importa se determinada decisão vai impactar e até que ponto pode afectar a vida de alguém. Isto de ter poder sobre algo e/ou alguém é demasiado forte numa sociedade como a nossa. E, quais poderes ditatoriais, as decisões tomam-se e mais nada há a acrescentar. É a última palavra. Ninguém tem direito de replicar, responder, explicar. Isto do poder dá-lhes a oportunidade de pensarem que as pessoas lhes devem alguma coisa. Ora vamos lá ver... Nos casos específicos a que me refiro: NINGUÉM vos deve nada, por mais que o vosso ego diga o contrário. Façam o vosso trabalho, respeitem os outros se querem ser respeitados e pensem que as vossas ações têm impacto na vida da(s) pessoa(s) em questão e das pessoas que as rodeiam.
Este maltratar e desconsiderar constante com base em estatutos e poder (monetário inclusive) irrita-me solenemente. A mim e a todos que passam por situações semelhantes diariamente mas que calam porque assim tem de ser ou então haveria consequências. Somos todos iguais e mais nada. Não há nada pior do que querer ganhar respeito através da repressão. E não vão conseguir. Hoje é um daqueles dias em que chego a casa e sei que não vou conseguir descansar como devia porque assisti a mais uma destas situações. Mas sei que ainda me importo com os outros e com os seus sentimentos. E isso dá-me a paz que falta às espécies de ditadores deste mundo. Coragem que amanhã é outro dia.