Os melhores discos de 2021 (02-06)
Estamos quase, quase a revelar o melhor disco de 2021, mas enquanto a lista não chega ao número 1, aqui ficam os discos entre a 2.ª e a 6.ª posição. Tal como no post anterior, escrevi também uma pequena explicação do porquê de serem parte do meu top 10. Enjoy!
A verdadeira voz do soul nos dias de hoje! Believe me and listen to "Where You're At". Superb.
Este álbum é uma combinação de 11 dos maiores sucessos de Allen Stone que, parecendo que não, começou a editar em 2009 e conta já com quato LP's. Este, gravado em Washington pela ATO Records, apresenta as canções favoritas dos fãs trazendo de volta a essência da sua composição que se resume nos instrumentais e voz mais naturais, reduzindo os arranjos e as camadas que as anteriores ganharam no processo de gravação - algo muito evidente em "Consider Me", por exemplo, cujo ritmo foi diminuído e é agora uma canção ainda mais soul e muito menos pop, para além de ter uma base de piano muito mais presente, num momento intimista. "I Know That I Wasn't Right" é outro desses momentos extremamente intimistas do álbum.
A sua voz é doce, é "quente" porque conforta, é como um abraço. Ao mesmo tempo, APART é um disco sexy! Há muito romance nas letras de "Lay It Down" - nos versos Wanna be the first thing you reach for in the morning and the last thing you put down at night e, mais à frente, keep me close enough to fit inside your pocket, let me see inside the windows through your heart; mas também em "Give You Blue" - na qual escreve I can't stop the rain but I will keep you dry/if the shore feels far awayI'll be by yourside/when the storms arise I will shelter you/when your sky is gray I will give you blue (mas que ideia, que visual tão bonito!). "Consider Me" é o apogeu do romantismo.
Sem dúvida que o Allen fez muito bem em revisitar estas canções!
Melhor canção: Brown Eyed Lover
Melhor letra: Where You're At
Melhor vídeo: Is This Love (Bob Marley cover)
Um dos discos mais esperados de 2021 para mim era este Loving In Stereo dos Jungle. Quem vai vendo/lendo o que publico por aqui sabe que eles são uma das minhas bandas favoritas e, portanto, a "ansiedade" de saber o que seria este novo trabalho era muita e as expectativas estavam elevadas. Cumpriu. A selva é uma festa!
Energia, emoção e uma vontade IN-CON-TRO-LÁ-VEL de dançar! Assim, em maiúsculas, como a alegria que conseguem provocar-nos.
É um disco que chega especificamente para alegrar-nos. A primeira canção, "Dry Your Tears", avisa que não há lugar a tristeza e que You gotta move it/keep moving logo a partir da canção n.º 2. Em poucos segundos estou a tentar coordenar o bater palmas com o "pézinho", a estalar os dedos e com os braços no ar... É que até as canções mais calmas têm um groove "jungleriano" que possivelmente deriva da importância que atribuem aos instrumentos de percursão - presença icónica nos concertos da banda e que fica sempre evidente nos discos - aliados à conjugação das guitarras, do piano e dos coristas. Essas vozes secundárias que de secundárias nada têm.
O início de "Fire", por exemplo, é a forma perfeita de explicar porque é que esta banda sabe escolher os nomes das canções. Impressionante linha de guitarra, mais uma vez com o groove de uma grande panóplia de sons vindos da percurssão e do grupo de segundas vozes que entoam magistralmente as poucas palavras desta letra, recorrendo a agudos de ritmo acelerado, outra característica dos Jungle. E se pensavam que ficava por aí o "fogo" do disco, logo a seguir está a "Talk About It" que deve render bastante nos festivais, fazendo jus à fama dos Jungle a criar refrões poderosos para serem entoados por grandes amontoados de pessoas, que a Covid tem impedido mas não por muito mais tempo. Do que me lembro, as pessoas cantam até as notas, nem é preciso que a música tenha palavras, tal é o entusiasmo de estar num concerto deles (um dos melhores concertos que já vi e no que mais me diverti - se é que posso adicionar).
Graças a este disco descobri a Priya Ragu, colaboração na música "Goodbye My Love", que foi também uma das belas descobertas do ano.
Thanks for making me stronger, friends. Cheers!
Melhor canção: All Of The Time
Melhor letra: Goodbye My Love ft. Priya Ragu
Melhor vídeo: Keep Moving (sem dúvida o vídeo do ano!)
[Nota intermédia: Agora é que vão ser elas. Elas no feminino e elas porque são dois discos bastante emocionais. Bare with me people!]
Atenção, atenção. Se não queres encontrar uma melhor amiga com quem dividir as tristezas da existência, não ouças Little Oblivions. É que Julien Baker é bastante profunda na exploração da sua relação com o mundo e as pessoas. Questiona-se, põe em evidência, talvez até se martirize no processo.
Esta realidade está presente em "Hardline", canção que abre o disco e nos diz "preparem-se para pensar sobre vocês mesmos e as vossas ações". Senão ora leiam: All the future things I will destroy/That way I can ruin everything/When I do, you don't get to act surprised. Umas canções mais à frente, três para ser precisa, escreve na #Relative Fiction": Dying to myself virtually, a massacre/A character of somebody's invention/A martyr in another passion play/I guess I don't mind losing my conviction/If it's all relative fiction anyway.
Podemos esperar isto ao longo do disco. Assim como podemos esperar uma conjugação guitarra/bateria claramente a dizer olá ao rock/indie rock/alternativo. Destaco os instrumentais de "Crying Wolf" - os riffles do meio da canção são a cereja no topo do bolo; a bateria de "Favor"; o piano de "Song In E".
Julien Baker tem também uma voz muito doce, mas que parece algo "assombrada", muitas vezes é um sussurro, outras tantas é uma força que catapulta - na "Song In E" coexistem -, quando necessário também utiliza a sua voz mais áspera, crua. E a emoção passa. É daquelas vozes que ouvimos e sabemos quem está a cantar, diferenciada.
Melhor canção: Highlight Reel
Melhor letra: Crying Wolf
Melhor vídeo: Hardline
Collapsed In Sunbeams é o disco de estreia da britânica Arlo Parks, alter ego de Anaïs Oluwatoyin Estelle Marinho (não tem ascendência portuguesa), e chegou a nós logo no início deste ano - janeiro - pela Transgressive Records. Não fosse a Covid-19 e este seria um álbum de 2020.
De voz angelical, doce, carismática, preparou 12 canções para se apresentar ao mundo. E conseguiu fazê-lo, captando o interesse de todos aqueles que a nomearam como nova promessa da música britânica.
Começa por demonstrar os seus dotes como poetisa com uma faixa homónima do álbum. Depois disso, é um "corridinho" de boas vibes, ainda que nem sempre os temas abordados nas letras sejam compatíveis com essa abordagem. É o caso de "Hurt" com um refrão tremendamente melódico que não transmite a energia da letra - Oh, wouldn't it be lovely to feel somethin' for once/Yeah, wouldn't it be lovely to feel worth something; ou de "Hope", onde escreveu You're not alone like you think you are/We all have scars, I know it's hard, mas que canta com bastante leveza e gingar. Ou seja, no fundo tem um pouco de Julien Baker ao escrever, mas uma onda leve e divertida a cantar.
É uma onda algo pop e R&B que funciona muito bem quando sabes escrever canções - e, no caso de Parks, poemas. Ser um álbum de estreia e estar tão bem cotado a nível internacional só nos faz ter esperança no que o futuro trará à carreira de Arlo Parks. Aguardo com muita curiosidade por próximos capítulos.
Melhor canção: Eugene
Melhor letra: Hope
Melhor vídeo: Too Good
Em julho escrevi que relacionava a música "Say That You Will" com os primeiros tempos da pandemia. Nos pequenos concertos que fazia em direto no Instagram, James Blake já tinha apresentado algumas das novas canções deste Friends That Break Your Heart. Fiz referência ao tempo que passou entretanto e como pouco tinha mudado no que à pandemia dizia respeito. Constantes mini confinamentos, o teletrabalho, o ter de ficar em casa e contar com a cultura para entreter-nos... Aquelas notas no piano, acompanhadas da voz de Blake, que é daquelas vozes que soa ainda melhor ao vivo, traziam-me esperança. Como, aliás, todo o disco traz.
Podia ser facilmente o disco do ano e durante algum tempo foi. Tive de afastar-me do meu entendimento de fã - vá, super fã! - para fazer a avaliação que, até então, mandava o coração. De facto, não há uma única possibilidade de James Blake lançar um disco que não esteja nas listas de melhores álbuns do ano deste blog e dos meios de comunicação por esse mundo fora. O que Blake consegue fazer sozinho - o homem banda, agora também Sr. actor (talvez por influências da incrível Jameela Jamil, sua namorada) - seja em palco, nos festivais, ou em casa com um piano e a sua voz maravilhosa é de arrepiar. Ele sabe, como poucos músicos que conheço e admiro, colocar apenas o necessário em cada canção. O estritamente necessário para funcionar. Essa simplicidade emociona-me. Ele assume os momentos imperfeitos da canção, tornando-os perfeitos com giros vocais do extremamente grave ao agudo angelical, canto a capella, instrumentais em crescendo, pequenos jeitos electrónicos - como acontece com Say What You Will, só para dar um exemplo.
Para as melhores canções, selecionei três. Não me peçam para escolher uma, não consigo, este álbum é todo ele brilhante. E temos de considerar que James Blake é o cantor, o compositor, o letrista, o produtor, o actor, o magnífico ser humano que vemos plasmado nestas canções. Como é que eu sei que ele é um magnífico ser humano? Porque só alguém com um coração do tamanho do mundo consegue chegar a tantos outros corações e emocioná-los com simplicidade e verdade.
Termino com uma parte do que escrevi em Julho: "Se esta pandemia tinha algo para nos ensinar enquanto sociedade, não ensinou. Mas pelo menos James Blake comprometeu-se a deixar esse ensinamento a quem quiser confiar nele. Eu confio. E ele nunca desilude". É uma história de amor a nossa.
Melhor canção: I'm So Blessed You're Mine + If I'm Insecure + Lost Angel Nights
Melhor letra: Friends That Break Your Heart
Melhor vídeo: Say What You Will (com a presença de FINNEAS e o Sr. Actor James Blake!)
P.S. Os nomes de artistas e músicas que estão escritos em minúsculas foram assumidos dessa forma pelos músicos e, portanto, foi respeitado o estilo pretendido pelos autores.
P.S. 2 - Como nota à navegação, comunico que este post não foi publicado em dezembro de 2021 (#iwish) mas como atualmente (fevereiro 2022) valores mais altos se agigantam, não me apetecia confundir as coisas e dar mais importância do que isto tem na realidade. Para além de que já não faz muito sentido publicar coisas como se fossem novas mas que estão no passado. Anyways... Estes textos foram escritos ainda em 2021 só ainda não tinha tido tempo de passar por aqui. Mas neste blog acabamos o que começámos.