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Few days on land

Um retrato do dia-a-dia de uma jovem de viagens quase sempre musicais e nem sempre coloridas.

O melhor álbum de 2021 foi um sonho que durou noite e dia

Viajei no silêncio e encontrei um lugar encantador.

Ali está um prado verdejante onde estendo a toalha para relaxar das preocupações do dia-a-dia. Ao olhar para o lado, tudo o que vejo são flores. Há também uma luz carregada de boas energias. "Agora ficava aqui tão bem uma orquestra", pensei eu, e ela surgiu no rádio. Foi de mansinho a uma tremenda energia em menos de nada. 

Sinto o sol a aquecer-me a pele e a canção da rádio já mudou. Agora são os anjos que, em harmonia, cantam um louvor ao soul. Ora são sussurros, ora são gritos - não me engano se disser que são sentimentos em forma de canção, tantos e tão fortes que vêm na minha direção. A rádio entrou no programa de harmonias e daí não sai mais. 

E se eu dançar? Aí vou.

A roda do vestido vai e volta enquanto salto de felicidade. É o ritmo, é a loucura de tudo funcionar tão bem. E ao mesmo tempo a dúvida de como é possível estar tudo a coexistir tão perfeitamente nesta bolha de amor ao que se faz de bom. Continuo a voltar a esta emoção, sinto que tudo se aproxima de um final apoteótico, mesmo sabendo que é impossível tudo terminar por aqui. Apoteótico foi, porque de apoteótico tem muito. Quero mais.

Tem lá calma porque a manter-se este ritmo, não poderás saltar muito mais. É tempo de um slow, bem livre como me sinto, de braços abertos para o mundo e para a felicidade. Porque é que há tanta harmonia neste lugar? E porque é que toda(s) ela(s) é(são) tão perfeita(s) como banda sonora do que estou a viver? [Saí da pista de dança de fininho.] 

Será verdade? Será possível? Quero ter esperança, mas a dúvida... A dúvida é grave e tem silêncios. Percebo que voltou a orquestra, vem ao longe. Ouço violoncelos tocar uma intensa melodia e a cadência chega do encontro entre tantas outras cordas que manejo com confiança de que algo vai mudar depois deste interlúdio.

E em mim, o que mudou? É agora o melhor momento para pôr em perspetiva a ligação que estou a criar com esta realidade. Se este lugar fosse uma pessoa, seria a minha melhor amiga, a minha estrela guia. Aqui há tudo quanto se pode sonhar num sonho perfeito.

Mas algo melhor está para vir. Pelo menos foi o que sempre nos ensinaram. No matter what, no horizonte estará sempre uma resposta: o que de melhor podes esperar. Faço-o por mim e por todos os que não podem viver este sonho. Maravilhosas estas notas, maravilhoso o perfume deste ar, finalmente respirável. Escolhi ficar para a eternidade. 

Podes contar-me uma história de amor? Prometo chorar de felicidade.

Levas-me a caminhar? Não quero acordar. Estive tempo demais naquele mundo repetitivo, cansativo, exagerado. O que conheci aqui é para guardar, cravar no coração, ao estilo de ide e ensinai.

Vem aí o apoteótico outra vez. O som aumenta. Agora o ritmo é ainda mais vigoroso e as harmonias virtuosas. Se é para me divertir, regresso à pista de dança e prometo não voltar a sair de lá, venha o que vier. Serei famosa nesta minha viagem ao paraíso! Mas... O que é isto e quem mudou a música de repente? Falso alarme, era só para o saxofone dar um ar da sua sonora graça. Aliás, quanta mais diversidade houver, mais sentido a música vai fazer, aprendi isso neste sonho. Sinto-me em casa.

Vou dançar e não vou sozinha, os anjos levaram-me pela mão. Estou junto à praia. Sinto que posso ser tudo, ter tudo, sentir tudo e que o mundo não é mais do que isto. 

Agarro-me ao tempo deste sonho. Peço-lhes um momento. Deram-me esperança, deram-me alegria, deram-me luz. Aqueceram o meu coração. Senti, vivi, dancei, chorei. Amei.  

O sonho foi curto.

Podia viver neste sonho? Por favor.