Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Few days on land

Um retrato do dia-a-dia de uma jovem de viagens quase sempre musicais e nem sempre coloridas.

Uma música, três versões: "Last Christmas" // it's christmas time

c7fdfff2ba6c7a2bb0ca2157cf4d207c.947x948x12.jpg

 

É Natal, é Natal. É a época de andar pelos centros comerciais ou pelas ruas da cidade e ouvir músicas de Natal em todos os lugares. Fazem-se playlists para animar convívios, preparam-se karaokes para entreter os mais crescidos na noite de 24 para 25 e criam-se belas obras de arte a partir de obras igualmente artísticas como forma de revitalizar e dar um cunho pessoal a canções sobejamente conhecidas (permitam-me a utilização da palavra cara porque é Natal e é permitido sonhar com coisas um bocado mais expansivas, ou não, tanto dá). "Last Christmas" é uma das músicas mais replicadas a cada época natalícia. Se não é A música do Natal. A verdade é que ao fim de tantos anos ainda conseguir ouvi-la do início ao fim, cantá-la, dançá-la... Só pode querer dizer que somos verdadeiros fãs do Natal. Por isso, escolhi um conjunto de três versões (e uma versão presente) de uma das minhas músicas de Natal favoritas.

 

Versão original

 

 

Versão synth-pop

 

 

Versão folk

 

 

E, como é Natal, uma versão presente: a versão barroca

 

Nome de Código: Hurts

17523087_10158813143905157_22795197859384292452_n.

 

"Never give up, it's such a wonderful life", diz-vos alguma coisa? A mim recorda-me de um tempo na minha vida em que cantava pelo menos 20 vezes por dia a música "Wonderful Life", dos Hurts. Ainda hoje sei a letra praticamente toda de cor e salteado mas a verdade é que a nossa ligação remonta a 2009, ano em que Adam Anderson e Theo Hutchcraft decidem formar os Hurts, no Reino Unido. Embora tenham tido outros projetos anteriores de pouca relevância, a história que os uniu é no mínimo curiosa. Consta que em 2005 ambos estavam embriagados demais para se envolverem em brigas de discoteca e então começaram a discutir gostos musicais e perceberam que, por alguma razão, o universo orquestrou uma amizade sem igual. Depois de projetos menos bem sucedidos, decidem, em 2009, gravar um vídeo amador para a música de que vos falei, "Wonderful Life", que é assim uma pérola nestas coisas do Youtube (mais tarde lançaram um vídeo sério e mais profissional mas o outro relembra-nos os novinhos e inexperientes Hurts, basta ver o microfone mal colocado). Entre as duas versões dividem-se até hoje mais de 40 milhões de visualizações. O sucesso começou a cantar mais alto.

 

Desde então editaram quatro álbuns e entre as suas tours tiveram oportunidade de visitar Portugal, mais precisamente o Porto, em Fevereiro de 2011. Foi no Hard Club e eu estive lá, tal era o fanatismo. Hoje agradeço a esse fanatismo que me levou a ir vê-los sem pensar muito no assunto, visto que não voltaram ao nosso país. Já lá vão 6 anos e continuo sem compreender porque é que não agendaram datas em Portugal.

 

 

Aqui e ali vou falando deles aqui pelo Few days on land. Primeiro porque são uma das minhas bandas favoritas e depois porque poucos são os músicos que sabem descrever tão bem as emoções. Em 2010 mostraram isso mesmo com o primeiro disco, Happiness, e em músicas como "Blood, Tears & Gold" (I see it in your eyes/ The suffer and it hides the blue,/ But I know that it's never gonna hide the truth/ (...) Love grows cold/ Blood, tears and gold/ Won't make it any better), "Stay" (My whole life waiting for the right time/ To tell you how I feel./ Know I try to tell you that I need you./ Here I am without you./ I feel so lost but what can I do?/ 'Cause I know this love seems real/ But I don't know how to feel) e "Unspoken" (nothing that I do/ will ever be enough for you/ Whatever I do, whatever I do/ Take me as I am/ I'll never be the other man/ Forget about you/ I'll forget about this time). 

 

Repetiram a proeza com o disco Exile, em 2013, com canções tão impactantes e fortes como "Blind" (with the weight of the world upon me I can’t hold my head up high./ So if you see me on the street turn away or walk on by./ Cause after the beauty we’ve destroyed/ I’m cascading through the void,/ I know in time my heart will mend), "Miracle" (look at all of the damage you have done in time/ You can see what a savage I’ve become, in my eyes/ If you look in my heart you will find/ No love, no light, no end inside/ And I’m looking for a miracle/ But I hope, I pray, and I will fight/ 'Cause I’m looking for a miracle) ou "Somebody to Die For" (I could drag you from the ocean/ I could pull you from the fire/ And when you're standing in the shadows/ I could open up the sky/ And I could give you my devotion/ Until the end of time). No caso específico de "Blind", as filmagens do vídeo, brutal e intenso, foram levadas a um extremo tal que Theo Hutchcraft até chegou a ser assistido a nível hospitalar, leia-se operado, porque caiu de umas escadas. Portanto, sim, o olho negro que vemos no vídeo é verdadeiro.

 

  

A dor, a perda, os sentimentos descontrolados e tantas vezes pouco definidos, a influência de outro alguém na personalidade e na forma de olhar a vida, são estes alguns dos temas mais frequentes nas suas letras. A música é igualmente descritiva, acompanhando as emoções e trazendo-as até nós pelos sons de um pop/synth-pop acutilante com guitarras, piano e bateria mas no qual a voz singular de Theo Hutchcraft faz toda a diferença. A interpretação, a marcação e entoação das palavras são fundamentais nos Hurts. 

 

Falando no Theo, já por algumas vezes comentei aqui no blog a sua irreverência artística e as suas capacidades teatrais. Hutchcraft acrescenta ao que seria uma boa banda pop a diferença que a torna excelente nas suas interpretações. Fá-lo nos concertos ao vivo mas, e de forma bastante particular, nos vídeos dos singles de três dos discos do duo. No primeiro álbum isso não se notou muito, talvez porque estivessem a tentar compreender o que seria expectável de uma banda com as suas características. O que é certo é que o segundo trabalho marca uma viragem na forma de abordar a importância da interpretação das palavras que escrevem e cantam. 

 

 

O vídeo de "Lights", por exemplo, ainda hoje é um dos meus favoritos de sempre. Sabem o que é sempre, não sabem? Pronto. É sempre! Descrevi-o de forma muito completa numa das publicações do blog porque considerei ser mesmo um passo em frente na concepção de vídeos musicais, uma vez que "Lights" apresentou-nos todo um outro nível de Theo ou as 50 shades of Theo. O disco Surrender, lançado no outono de 2015, foi aliás uma grande surpresa no que aos vídeos diz respeito com Theo Hutchcraft a brilhar em todos eles (já se previa algo do género quando escrevi sobre os avanços que se iam conhecendo na primavera daquele ano). Nisto das interpretações o Theo ganha porque o Adam não aparece tanto. Normalmente aparece como o pianista dos cenários onde Theo desafia os melhores actores de Hollywood. é actor por momentos "Some Kind of Heaven" também tem história (you're some kind of heaven/ that's all that I need/ I found it in you/ too good to be true). Se Theo podia ser apenas o namorado que vai ser apresentao à família? Podia, mas cedo se percebe que anda metido em tramoias demais que o tornam not good enough (aos seus olhos e aos dos que é suposto avaliarem-nos) e, o próprio, percebe que talvez não seja a melhor pessoa para ali estar, naquele ambiente, com aquelas pessoas. E, mais uma vez, enquanto isto acontece, Adam é o pianista. Nem todos podem ser Leonardos Dicaprios desta vida (e mesmo assim só um é o melhor). Hutchcraft não pára de surpreender com as suas interpretações dignas de globos e óscares em "Wings", faixa e vídeo que examinei pormenorizadamente noutro post anteriormente publicado no Few days on land.

 

 

 

Os Hurts não se fazem de esquisitos e tanto aparecem todos produzidos, com personagens a representar com complexidade e exaustão envolvidas, como vestem um fatinho e fazem os bailarinos brilhar nos cenários. "Miracle", "Stay", "Better Than Love", a tão simples mas emotiva "Wish" e mesmo "Somebody to Die For", em que fazem parte da história e dos cenários mas não representam.

 

 

 

REDES SOCIAIS_Hurts
Site Oficial
Facebook
Twitter: Theo Hutchcraft | Adam Anderson

Instagram: Theo Hutchcraft | Adam Anderson
Youtube



18034144_10158913586775157_82438456173393883742_n.

Todas as fotografias desta publicação foram retiradas do Facebook dos Hurts.

As três vozes mais surpreendentes dos últimos tempos

Nunca deixo de ouvir música. É a minha forma de ganhar energia para o dia-a-dia. A música que tenho ouvido nos últimos meses apresentou-me a três vozes que me surpreenderam. Os músicos Tor Miller, Alex Cameron e Oscar têm vozes diferentes do que é comum ouvirmos, no geral. No particular, destaco o alcance vocal, a calma/tranquilidade a contrastar com a jovialidade dos artistas em alguns aspectos, a vibe dos 80's que me apaixona mais e mais a cada ano que passa, as letras "fora da caixa" vs. "as certinhas", a descontração/inovação nos vídeos, e os movimentos de dança e estilos peculiares que os tornam artistas raros. Estas são características que se adequam aos três que estão a dar cartas valiosas no mundo da música.  

 

Tor Miller

Directamente de Brooklyn, Nova Iorque, para o Few days on land, chega Tor Miller. Aprendeu a tocar piano em criança e a cantar enquanto ouvia Frank Sinatra e Ray Charles com o pai. Aos 18 anos teve uma banda de pop-punk mas não demorou muito a render-se ao indie pop, a solo. Agora, com 22 anos, acaba de lançar o seu primeiro álbum, American English, depois de no ano passado ter editado o EP Headlights. A voz é única e o disco parece-me um excelente começo de carreira para o músico. Ouçam:

 

 

Se tiverem dúvidas quanto à capacidade vocal deste jovem, podem esquecer o assunto assim que ouvirem a música seguinte, "Baby Blue", que está na lista para vocês terem uma pequena noção do quão bem ele canta ao vivo:

 

 

E para a dança? Tem jeito? Não se preocupem, o jovem músico também se adequa! Nesta versão de "Carter & Cash" é possível ver alguns dos moves muito peculiares de Tor Miller:

 

 

 

Alex Cameron

De Sidney (Austrália) aparece Alex Cameron que o jornal britânico The Guardian descreve como "your new favourite loser". Segundo o próprio músico explica na apresentação do seu projeto musical no qual colabora com Roy Molloy, as canções descrevem a sua experiência no mundo do show business, as pessoas e as histórias que ele conheceu e ouviu. Tal como explicado pelo The Guardian para atribuir-lhe aquela descrição, o foco do projeto está na falha como um mal necessário à evolução: "We're reclaiming failure as an act of progress. An act of learning. Something to celebrate", disse Alex Cameron. Tudo isto através do synthpop.

 

Em 2013, lançou Jumping the Shark, o primeiro registo discográfico que esteve disponível para download no seu website até que a edição física do disco saiu à rua, há cerca de dois meses. Podem encontrá-lo também através da abreviatura do seu nome, ALKCM, difundida pelo próprio, embora agora utilize o nome todo na maioria das vezes. Estrelas, vá-se lá perceber!  

 

 

 

 

Oscar

Para completar os grandes centros musicais da actualidade temos o Scheller, Oscar Scheller, de Londres. É dos três o que tem o registo mais descontraído, principalmente nos vídeos. Assume-se perante o seu público apenas como Oscar e tem razão porque depois de conhecer as músicas é fácil associar a voz e o estilo ao músico que está em tour pela Europa as we speak, se é que me entendem. Resumindo: é um moço divertido, querido e alternativo que também está dedicado ao indie pop. O disco de estreia, Cut and Paste, saiu em Maio deste ano. 

 

 

 

 

Gostaram de algum destes artistas? Há por aí sugestões de grades vozes a emergir no mundo da música para ouvir? 

Bom fim-de-semana para todos! 

Álbuns de 2016: Moth, de Chairlift

Os Chairlift, duo americano formado em 2005 por Caroline Polachek e Patrick Wimberly, regressam aos registos discográficos com Moth, disco do qual já conhecíamos as faixas "Ch-Ching" e "Romeo". Editado pela Columbia Records, Moth saiu a 16 de Janeiro. Três anos após o lançamento de Something, álbum de Janeiro de 2012, Caroline e Patrick voltaram em força e prometem ficar porque trouxeram músicas capazes de alcançar o rótulo de the next big thing e trazê-los a Portugal novamente, muito em breve (de relembrar que eles marcaram presença na edição de 2015 do Vodafone Mexfest).

 

O alcance vocal de Caroline Polachek é impressionante e a variação vocal que ela imprime nas canções é talvez a característica mais vincada da banda. Muitos reconhecem-nos porque sabem que assistir a um concerto deste duo é praticamente o mesmo que ouvir o CD, apenas no que respeita à qualidade dos agudos de Polachek, como é óbvio. A energia nem se compara! Caroline tem uma voz imensa, que impressiona, mas que só brilha se Patrick Wimberly fizer o seu trabalho dando groove instrumental à coisa. Aliás, Wimberly tem menos intervenções vocais em Moth do que nos discos anteriores, certamente para se concentrar nos múltiplos sons que os Chairlift revivem faixa a faixa. Vi-os no Primavera Sound de 2012 e adorei. Já era fã mas ainda fiquei mais. 

 

 

       

ChairliftSingle.jpg

Desde Does You Inspire You, primeiro álbum da banda, que o synth-pop é a praia certa para os Chairlift e, por isso, esperava-se que este álbum estivesse dentro do estilo. E está. Analisando as canções, "Romeo" e "Ch-Ching" foram os primeiros singles conhecidos porque são também as faixas com melodias mais semelhantes aos grandes êxitos da banda como "Amanaemonesia" ou "I Belong in Your Arms", faixas incluídas em SomethingMoth tem 10 canções originais, sendo as minhas favoritas "Look Up", "Polymorphing", "Crying In Public", "Ch-Ching" e "Moth to the Flame".  


Li algures que se nota perfeitamente como o som dos álbuns tem evoluído e está hoje muito mais "limpo" do que o som do álbum que os lançou, em 2008. Concordo plenamente, embora Does You Inspire You seja um dos meus álbuns favoritos de sempre, com músicas como "Planet Health", ou "Earwig Town", sem esquecer, naturalmente, "Bruises" - que deve ser uma das músicas que mais cantei na vida, ainda hoje sei cada palavra da letra - e "Somewhere Around Here", uma das melodias mais bonitas que já ouvi.

 
"Moth to the Flame" impressiona por ser extremamente pop, digno de se transformar num hit brevemente. É super dançável, animada, e tem Polachek a mostrar a amplitude de que falava no início, parte da sua identidade. "Show U Off", a canção que se lhe segue, herda vários aspectos da anterior: batida marcada, é up beat, melodia dançável, ainda que menos identificável com as criações de Chairlift.

 

Um dos pontos também caracerísticos desta banda e que gosto de ver que não esqueceram em Moth, é o facto de incluirem sons menos usuais neste estilo nas suas músicas e combinarem-nos com sons electrónicos, as guitarras e as vozes de uma forma diferente das outras bandas. Com os Chairlift parece que essa junção corre sempre bem. É difícil apontar-lhes defeitos. Em "Ottawa to Osaka", por exemplo, ouvimos violinos misturados com sons orientais e electrónica. E não podemos dizer que não funciona. Escolho "No Such Thing as Illusion" (boa letra!), "Unfinished Business" e "Show U Off" como as menos favoritas do álbum.

 

Ouvir Chailift soa sempre a uma viagem. Acontecem várias coisas, todas elas diferentes, conseguimos passar por diversos estados de espírito, e imaginar paisagens bastante díspares. Não diria que Moth é mais do mesmo, mas também não é um flop. Mudaram pequenas coisas e, neste caso, isso correu bem.

 

Recomendo!