Não é todos os dias que podemos ver bons atores brasileiros (e respetivas equipas de produção) trazer peças de teatro de grande qualidade a Portugal. Aconteceu ontem e, em Lisboa, acontece até 17 de dezembro com "Os Guardas do Taj". Uma história divertida e comovente que fala do poder da amizade e das nossas escolhas. Uma história contada por dois atores numa comunhão perfeita e com uma entrega verdadeiramente emocionante. Conhecemos muito bem Reynaldo Gianecchini, há tantos anos nas nossas televisões, mas talvez não conheçamos Ricardo Tozzi tão bem quanto o ator merece. Gostaria de ter dito aos dois pessoalmente quão emocionada e até surpreendida fiquei com a sua atuação. De Gianecchini sempre achei que todas as suas representações eram carregadas de verdade, uma verdade que se vê em poucos atores. Confirmei isso mesmo. Aquela emoção em cada palavra é de arrepiar! Ricardo Tozzi vai muito além do mais cómico dos seus personagens. Esta é uma personagem que coloca muitas das questões que o próprio público faria, sendo profundamente sentimental ao mesmo tempo que relativiza e coloca humor nas palavras. Aplaudimos de pé mesmo! 👏 Que bom ver excelente teatro brasileiro em Portugal. Que pena que sejam poucas as oportunidades de ver estes atores. Espero que voltem com mais!
Hoje é o último dia em que podem visitar a exposição "José de Almada Negreiros: uma maneira de ser moderno", no Museu Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Já aqui mostrei fotografias e expliquei porque é que todos os que tiverem oportunidade de passar por lá não devem perder mas achei importante relembrar no último dia. Na minha opinião, é uma exposição que tão cedo não volta a repetir-se (é só ver pelo tempo que demorou ter uma exposição tão completa e com tanta qualidade quanto esta). Podem encontrar os trabalhos de Almada dispersos, mas tantas obras de arte, num só local, não voltamos a ver tão cedo. Leiam o que vos escrevo.
José de Almada Negreiros foi um dos artistas portugueses mais completos do século XX (eu diria de sempre, mas pronto). Não foi só escritor, mas também pintor; não foi só vitralista, foi também um incrível performer. E foi muito mais. Fez parte de uma geração - a de Orpheu - marcada pela intensidade e é hoje um nome maior da arte em Portugal por tudo quanto deixou para as gerações de hoje e amanhã. É essa obra, pela qual é cada vez mais reconhecido, que está em exibição no Museu Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
Eu que sou uma apaixonada por estes temas, andava extremamente ansiosa (a.k.a. maluca) para ir ver a exposição e a F. - uma apreciadora de arte que, ao contrário de mim, fala muito bem francês e inglês e consegue ajudar-me a traduzir as minhas emoções (por favor, alguém tem aí um daqueles emojis de chorar a rir que me empreste?!) - também queria ir. Visto que só podemos ir ao fim-de-semana fomos num domingo, que é grátis (a partir das 14 horas). A fila é imensa - isto para mim é bom sinal - e ouvi algumas pessoas a dizer que já era a segunda e terceira vez que iam ver a exposição. Pode ser porque está lá tanta gente dentro que não se conguese ver tudo com pormenor? Sim, pode ser, mas eu acredito que é mais pelo inequívoco talento e genialidade de Almada Negreiros.
De facto, a exposição está sempre bastante cheia e temos de esperar um bocado para conseguir apreciar as obras mas vale a pena a paciência. É que a viagem que a exposição "José de Almada Negreiros: Uma maneira de ser moderno" nos proporciona é enriquecedora! Para terem uma noção, em Março de 2015 fui ao Museu da Electricidade ver a exposição "Almada, o que nunca ninguém soube que houve" e, comparando as duas, a de 2015 não é nem 1/3 daquilo que está exposto na Fundação Calouste Gulbenkian. Perdi-me em tantas obras, quem segue o Few days on land no Instagram pode ver-me a apreciar o amor verdadeiro de Sarah Affonso, e acabamos por ganhar não uma mas duas horas de cultura para nossa imensa satisfação pessoal.
Por todas estas razões e porque, na minha opinião, devemos enaltecer os grandes nomes da história da arte portuguesa, aconselho vivamente a todos os amantes de arte uma visita a este museu. Quando forem, levem tempo, paciência e curiosidade porque vão precisar (mesmo quem já tem). Não duvidem que vão aprender muito e divertir-se. Vejam todas as salas, todos os pisos, todas as obras. A exposição está no Museu Calouste Gulbenkian até ao dia 5 de Junho.
A todos os que estiverem pelo Norte não percam esta sublime interpretação de Diogo Infante (com não menos sublime música de João Gil!), em cena no Teatro Nacional de São João até ao dia 13. A "Ode Marítima" não podia ter sido interpretada de melhor forma. Se Álvaro de Campos tivesse existido fisicamente seria exactamente assim. Sem mais, nem menos. Mas a alma, que ele teve e que lhe foi entregue pelo génio da literatura portuguesa que foi (e sempre será) Fernando Pessoa, esteve no São Luiz e viajará agora até ao Porto. E foi bom poder dizer isso pessoalmente ao actor: que representou em palco o Álvaro de Campos que sempre imaginei. Repito: sublime!
O vídeo apenas mostra uma (muito) pequena parte do espetáculo. Se gostaram deste excerto, imaginem o que poderão achar de toda a interpretação no São João. Assim que o espetáculo regressar a Lisboa, aí vou eu de novo. Vale a pena!