Li um texto impressionante de Niels Ivar Larsen, um jornalista dinamarquês que participava no debate sobre a liberdade de expressão, em Copenhaga, planeado pelo cartoonista Lars Vilks, onde ocorreu mais um tiroteio ao 'estilo' do ocorrido em França, em Janeiro. Achei que o devia partilhar convosco. Li este artigo no The Guardian, embora o texto seja originalmente do jornal dinamarquês Information, do qual Larsen é editor. Um texto tão bem escrito, momentos tão agoniantes muito bem descritos. Um texto estruturado e sentido. Emocionante.
"Here I sit in my wretched hiding place behind a black curtain, clenching on to a round coffee table – a makeshift shield made of plastic that’s hard, but surely not hard enough. This is not the death I would wish for. Is this really how it ends?
(...)
The fight for freedom of speech has always been the most important thing for me. But was it really meant to be that I would die for it? Martyrdom is for fanatics, not democrats. Imagine dying for an ugly drawing of a Swedish dog with a prophet’s face. What an absurd reason to die. What an absurd reason to kill.
Like a fool I hold my coffee table shield in front of me, knowing it will not provide any protection whatsoever if the perpetrator – or could there be more than one? – forces himself into the hall and starts shooting, as he has done outside. Then it will surely be over. Like Charlie Hebdo’s editorial staff, we are all helpless victims in this room. We are sitting ducks. How painful is it to be riddled with bullets? How long does it take to die? What will become of my girlfriend? What will become of my son?
(...)
Many head towards the back entrance, others find cover behind chairs and desks, but where is shelter? Where are the hiding places? Nowhere. Here, there is no safety, absolutely none at all.
(...)
It was not a bad dream, not a stupid film. Terror has hit, it has hit Copenhagen, it has hit us all right in the heart. The question is, how long will this nightmare last?"
Depois da infinidade de oportunidades, uma ressalta aos sentidos. Aquela que quanto mais clara fica, mais confusa se torna e que mantém a esperança de ser lembrada como a única estrela avistada no céu nublado que cobria a noite ou o único raio de sol que nasceu para a manhã seguinte.
Quem vê a verdade, vê a possibilidade de fugir. Porque hoje podemos fugir do que vemos, só não podemos evitar os encontros de personalidades onde cada pessoa se conhece, onde cada um de nós vê quem realmente é. E quando o vê foge. Escolhe fugir porque é essa a melhor escolha. Esse é o único caminho.
Existes perseguindo o desconhecido e a surpresa é o insólito dos encontros momentâneos.
O barulho real é perpetuado no vazio quando o que se procura é calma. O movimento ganha devoção através de desgostos desafinados que transparecem no chão molhado.
É tempo de questionar o paradeiro da vida e quem ficou de vigiá-la, mas o certo é que não há respostas nos céus nublados. Talvez amanhã brilhe o sol.
Comecei por querer perceber se o que muda é o tempo ou se são as pessoas. Ainda não descobri e penso não ter chegado nem perto disso. Talvez seja hoje, através desta reflexão, talvez não.
É verdade que são os ponteiros do relógio que se movimentam no tempo que avança. São os anos que passam por nós e escolhem passar não a trote ou a galope, mas no ritmo certo. Entre os anos que passam e os que vão passar nunca ficamos impunes, antes somos punidos por essa passagem. Não é algo negativo, é a vida. A vida que segue como a água segue pelo rio e que, mesmo quando encontra pedras, arranja uma forma de passar por elas. Assim somos nós, enquanto humanos, enquanto vivemos. Perdemos o tempo mas ganhamos o hábito e a experiência de lidar com isso.
O tempo é das poucas coisas que não podemos mudar. Não há forma de viver o futuro em vez do presente e só as nossas memórias nos levam ao passado. Certo é que não podemos viver determinada situação de novo para a tornar diferente. O que está vivido está.
(fotografia "As voltas da vida" de Gil Reis)
São as memórias e os sonhos que nos fazem balançar na "corda bamba" da vida. Sentimos saudade dos bons momentos pela alegria que deixaram em nós e tentamos esquecer os maus momentos, embora esses nos tragam a sabedoria. Mas será que toda a experiência e sabedoria, todos os momentos que vivemos mudam as pessoas, a sua forma de ser e reagir com os outros mas também consigo mesmas? Seremos moldados pela vida, por nós próprios ou pelos outros?
Somos quem somos porque sentimos, ou não, e isso define-nos, identifica-nos, pode diferenciar-nos. Mas mantemos a nossa personalidade ao longo da vida?
Num primeiro momento de reflexão, a minha resposta é sim, mudamos. A vida ou, muitas vezes, os outros ensinam-nos que devemos mudar, que não estamos a ser nós (ou a pessoa que querem que sejamos) em determinado momento ou que só seremos pessoas melhores se mudarmos certos aspectos da nossa personalidade.
Mas, se pensarmos bem, talvez possamos compreender que a nossa personalidade, quem somos realmente, não pode mudar, ou não deve para que sejamos fiéis a nós próprios. Daí quando ouço alguém dizer "Tu mudaste. Já não és a mesma pessoa" (e este diálogo ouve-se muitas vezes), penso: "Essa pessoa sempre foi assim, tu é que só agora a estás a conhecer tal e qual como ela é, sempre foi e sempre será".
Alguma opinião sobre o assunto desse lado? Comentem :)